Recentemente, um estudo realizado pelo Instituto Butantan destacou o papel do própolis, substância produzida pelas abelhas, não apenas na proteção da colmeia contra fungos e bactérias, mas também na sua eficácia contra vírus como zika, chikungunya e mayaro, transmitidos por mosquitos. A descoberta eleva o perfil do própolis como um possível aliado na luta contra doenças virais que afetam a população.
Os pesquisadores Ronaldo Mendonça e Pedro Ismael Silva Jr., dois dos autores do estudo, compartilharam detalhes sobre a pesquisa, que tem implicações significativas para a saúde pública e possíveis aplicações terapêuticas.
Como o própolis atua contra os vírus?
Ronaldo Mendonça: Nosso trabalho não se limita aos vírus citados. Temos estudado o sarampo, coronavírus, herpesvírus e rubéola, e a resposta é clara: o própolis tem demonstrado potencial de neutralização para todos eles. Ele ativa fatores naturais de defesa nas células, como o TNF, óxido nítrico e interferons, os quais desempenham um papel essencial na resposta imunológica.
Diferença entre soluções aquosas e alcoólicas de própolis
Mendonça: A extração alcoólica tem suas limitações. Quando aplicamos uma solução alcoólica nas células, o álcool pode induzir a morte do vírus ou da célula. No entanto, ao trabalharmos com uma solução aquosa, toda a atividade benéfica vem da substância ativa, sem a interferência do álcool.
Pedro Ismael Silva Jr: Estamos utilizando ressonância magnética para identificar a molécula que é responsável pelo efeito antiviral. A ideia é sintetizar essa molécula para que possamos trabalhar diretamente com ela, aprimorando as aplicações terapêuticas.
Concentração e eficácia na administração oral
Mendonça: A composição do própolis é influenciada pelas flores ao redor, que variam mês a mês. Estamos fazendo uma caracterização química detalhada, analisando a variação mensal para identificar quando a atividade antiviral é mais robusta. Assim, podemos determinar quais plantas estão disponíveis em cada período e, eventualmente, extrair as substâncias ativas dessas plantas, sem depender do própolis em si.
Além disso, estamos comparando o própolis comercial disponível em farmácias com o própolis extraído de abelhas nativas de São Paulo e do Nordeste. O própolis nordestino, devido à diversidade de plantas na região, mostrou-se muito mais potente em termos de atividade antiviral, antibacteriana, anti-inflamatória e até antitumoral.
Eficácia do própolis comercial
Mendonça: O própolis comercial que encontramos em farmácias, definitivamente, também possui ação antiviral. Contudo, o que queremos destacar é que aqueles provenientes de regiões com maior diversidade de flora podem ter um efeito mais intenso, abrangendo um espectro de ação mais amplo contra diversas doenças.
Essa pesquisa não apenas amplia nosso entendimento sobre os benefícios do própolis, mas também abre portas para futuras investigações que podem levar ao desenvolvimento de novos tratamentos e medicamentos, potencialmente eficazes contra uma gama de doenças virais.
É imprescindível continuar explorando esse recurso natural, que combina composição bioquímica complexa e propriedades medicinais promissoras, agora respaldadas por estudos científicos que mostram sua relevância no combate a patógenos que representam riscos sérios à saúde humana.
