Com a pandemia, muitas pessoas passaram a trabalhar em regime de home office. Essa adaptação não foi apenas para funcionários, mas também para empresas e gestores. A dinâmica do trabalho remoto trouxe desafios, e algumas pessoas acabaram utilizando um dispositivo chamado mouse jiggler, que serve para manter o computador ativo.
O termo “jiggler” significa “objeto que treme”, e o gadget tem como função manter o cursor se movendo na tela, sem depender da ação do usuário. Dessa forma, softwares como Microsoft Teams e Slack não indicam que a pessoa está “ausente” ou “ociosa”, já que o computador se mantém ativo. Isso pode ajudar a evitar a vigilância indireta de supervisores, que costumam checar se os colaboradores estão realmente trabalhando durante o expediente.
No entanto, o uso do mouse jiggler tem uma história mais longa e intrigante.
De investigações para pessoas comuns no home office
Os mouse jigglers não são uma novidade. Nos anos 2000, esses dispositivos já eram utilizados por equipes de TI e investigadores, pois eram conectados na porta USB do computador para controlar o movimento do cursor. Essa técnica era útil para manter as máquinas funcionando por longos períodos, evitando que precisassem da digitação de senhas várias vezes. O FBI, por exemplo, usava esses dispositivos ao apreender computadores de suspeitos para garantir que as máquinas não se bloqueassem automaticamente.
Há também métodos que podem bloquear essa função, como o software USBKill, que desativa um computador ao conectar um novo dispositivo na porta USB. O programa pode ainda executar ações mais drásticas, como a exclusão de arquivos específicos.
Mouse jiggler virou software e até vídeo do YouTube
Hoje, existem versões diferentes dos mouse jigglers. A maioria continua conectada ao USB da máquina, mas apenas para obter energia, funcionando como um suporte para o mouse real em cima dele. Um disco na base do aparelho começa a girar, permitindo que o sistema óptico detecte movimento e, consequentemente, mova o cursor na tela.
Encontrar um mouse jiggler no Brasil não é muito fácil. Após uma pesquisa rápida, constatei que a maioria das opções disponíveis são importadas da China e vendidas em grandes marketplaces, com preços que variam de R$ 100 a R$ 500. Nos Estados Unidos, os preços giram em torno de US$ 30.
Além de dispositivos físicos, há programas que podem simular o movimento do cursor e, assim, manter o computador ativo. Exemplos incluem Mouse Jiggler, Auto Mouse Mover e Move Mouse. Outra alternativa simples é procurar por “mouse jiggler” no YouTube, onde você encontra vídeos longos que podem manter a máquina ligada sem necessidade de instalação ou compra.
O uso de mouse jigglers no home office pode ser um tema controverso. Existem situações em que a supervisão é realmente intensa, e estar ausente do computador não significa que o funcionário não está se dedicando ao trabalho — pode estar atendendo um cliente, por exemplo. Por outro lado, permanecer online enquanto resolve questões pessoais pode não ser a abordagem mais ética.
Além disso, os mouse jigglers também podem ser bastante úteis para manter o computador ativo durante processos longos, como atualizações ou downloads, oferecendo uma solução mais prática do que modificar configurações do sistema a cada vez. E, claro, sempre há a possibilidade de soluções criativas, como amarrar o mouse a um ventilador para simular movimento.
Como esta tecnologia pode ser utilizada de forma responsável no ambiente de trabalho remoto?
Aspectos legais e morais do uso do mouse jiggler
Embora o mouse jiggler tenha suas vantagens, também levanta questões éticas e legais. O uso desse dispositivo para enganar supervisores pode ser visto como uma violação de confiança. Em algumas empresas, a transparência e a comunicação são valorizadas, de modo que a utilização de ferramentas para parecer ativo pode prejudicar a relação entre empregados e gestores.
Além disso, o uso de mouse jigglers pode infringir políticas internas de algumas organizações, que podem considerar essa prática como uma forma de desonestidade. Muitos empregadores valorizam a autenticidade no trabalho, e é importante estar ciente das expectativas da empresa antes de decidir utilizar essas ferramentas.
Por outro lado, em situações em que os colaboradores são submetidos a uma vigilância excessiva e intrusiva, o mouse jiggler pode ser visto como uma ferramenta de defesa, uma forma de protegê-los de um ambiente de trabalho opressivo.
É preciso ponderar os prós e contras e considerar as circunstâncias específicas que cercam cada situação. A comunicação aberta com os gestores sobre as expectativas em relação ao trabalho remoto pode ser uma abordagem mais saudável do que recorrer a artifícios para evitar a vigilância.
Qual é a linha entre manter-se ativo e ser proativo e a manipulação para evitar a supervisão excessiva?
A evolução do trabalho remoto e como o mouse jiggler se insere nisso
O conceito de trabalho remoto não é novo, mas a pandemia acelerou sua adoção em todo o mundo. Com mais empresas buscando flexibilizar suas políticas de trabalho, é natural que ferramentas que ajudem nesse novo ambiente surjam. O mouse jiggler é apenas uma entre muitas adaptações que os colaboradores desenvolveram para se adequar ao home office.
À medida que a tecnologia avança, novas práticas também emergem. Softwares de gestão, sistemas de monitoramento e ferramentas de comunicação são alguns dos exemplos dos recursos que visam aumentar a produtividade no home office. O mouse jiggler, por sua vez, é uma solução simples e mecânica no meio de um mar de tecnologias sofisticadas.
No entanto, a questão que se coloca é: até que ponto essas adaptações são realmente necessárias? O avanço das tecnologias de comunicação, como videoconferências e ferramentas de trabalho colaborativo, já oferece meios para que a produtividade possa ser acompanhada sem a necessidade de recorrer a artifícios. Uma abordagem que priorize a eficiência e o bem-estar do colaborador pode ser mais benéfica a longo prazo.
É relevante explorar se a busca por soluções como o mouse jiggler indica uma falta de confiança nas relações de trabalho. Se as empresas desenvolverem um ambiente que valorize a transparência e a colaboração, talvez dispensessem esse tipo de estratégia, permitindo que os colaboradores se sintam mais à vontade para administrar seu tempo. Como as empresas podem promover um ambiente de confiança no trabalho remoto?