Recentemente, o CEO do Instagram, Adam Mosseri, trouxe à tona uma questão que tem gerado discussões nas redes sociais. Ele mencionou que o Threads, uma plataforma emergente da Meta, tem enfrentado um aumento de posts conhecidos como “baits”. Este termo, traduzido como “isca”, refere-se a publicações elaboradas especificamente para gerar controvérsias e atrair respostas dos usuários. Essa prática tem se tornado cada vez mais comum e, segundo Mosseri, a empresa está atenta a esse fenômeno e busca soluções.
O tema ganhou notoriedade após uma publicação de uma imagem gerada por inteligência artificial, que mostrava uma idosa com um comentário sobre suas vestimentas, ter obtido mais de 18 mil respostas. Essa viralização provocou questionamentos sobre a relevância desse tipo de publicação dentro da plataforma. Mosseri, em uma interação, afirmou: “Notamos um aumento nos baits de engajamento no Threads e estamos trabalhando para controlar isso. Mais novidades em breve”.
A estrutura do Threads conta com um algoritmo que determina o que aparece na timeline dos usuários. Embora seja possível visualizar um feed em ordem cronológica, essa configuração não é a opção padrão e pode dificultar o acesso a certos conteúdos. Assim, postagens que conseguem engajamento substancial tendem a aparecer para um público maior, gerando um efeito cascata: mais respostas levam a mais visibilidade, perpetuando o ciclo.
A situação não é exclusiva do Threads; plataformas como TikTok também veem usuários adotando táticas semelhantes. Em muitos casos, suscitar reações negativas tem mostrado ser uma estratégia eficaz para ganhar atenção, principalmente no formato de vídeos curtos. Tanto o Threads quanto o TikTok integram programas que compensam financeiramente os criadores com base em visualizações, evidenciando a competição acirrada por engajamento e interação.
Estratégias Polêmicas para Aumentar o Engajamento
A discussão acerca dos baits alcançou novos patamares após um experimento realizado pela repórter Katie Notopoulos, da Business Insider. Em setembro de 2024, ela testou se opiniões polêmicas poderiam, de fato, gerar o engajamento tão almejado. Notopoulos compartilhou várias postagens abordando temas controversos, como a prática de deixar gorjetas em restaurantes e a decisão de não oferecer refeições a amigos de seu filho, sempre finalizando com perguntas provocativas.
O resultado foi impressionante: uma de suas publicações alcançou mais de 5 mil respostas e continuou a receber comentários mesmo dias após a postagem inicial. Para incrementar ainda mais a viralização, seus conteúdos foram compartilhados em diversas páginas de memes e grupos de conversa. Ao ser questionada pela Business Insider, a Meta comentou que, embora as respostas sejam um dos sinais usados para recomendar publicações, não são o único fator relevante na curadoria de conteúdo.
De acordo com um porta-voz da Meta, o algoritmo que determina o que aparece no feed personalizado “Para Você” leva em conta diversos fatores. Entre eles, as contas com as quais o usuário interage, a recência do conteúdo e outros aspectos de engajamento. Isso levanta questões sobre a eficácia e ética de estratégias que priorizam a criação de controvérsias apenas para atrair mais respostas, fazendo com que o compromisso genuíno com a qualidade do conteúdo possa ser colocado em segundo plano.
A prática de gerar baits revela um dilema na dinâmica das redes sociais: como equilibrar o autêntico envolvimento do usuário com táticas que visam apenas maximizar números. Essa tensão sugere que a Meta está ciente do problema e, possivelmente, começará a ajustar seu algoritmo para priorizar interações mais genuínas em vez de resultados apenas artificiais.
Consequências e Reflexões sobre o Engajamento nas Redes Sociais
Conforme o engajamento se torna uma moeda valiosa nas plataformas digitais, as estratégias para consegui-lo tornam-se mais complexas. Essa situação demanda uma reflexão profunda sobre os impactos de conteúdos que promovem divisões ao invés de diálogos construtivos. É essencial ponderar até que ponto as redes sociais devem permitir a proliferação de baits e qual o papel dos usuários nesse cenário.
Além disso, vale considerar como essas práticas afetam o clima e a qualidade das interações nas redes sociais. As provocações e a busca por reações imediatas podem levar a um ambiente tóxico, onde o espaço para discussões saudáveis é limitado. Refletir sobre a natureza das interações nas redes é crucial para o futuro das mídias sociais.
Por fim, enquanto a Meta e outros gigantes da tecnologia lutam contra essas dinâmicas de engajamento, torna-se evidente que a responsabilidade pela criação de um ambiente de discussão saudável também recai sobre os usuários. Eles têm o poder de moldar as comunidades online, optando por interações mais construtivas e contribuindo para um uso mais consciente das plataformas que tanto influenciam nossas relações sociais.